sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Santo Antão “Ser presidente da câmara é um grande sacrifício”






Orlando Delgado, em entrevista ao A NAÇÃO fala sobre os desafios e ganhos do concelho, e deixa em aberto a possibilidade da sua recandidatura nas próximas eleições autárquicas. Diz-se recompensado pelos ganhos que obteve nos seus dois mandatos, apesar de admitir ser um grande sacrifício estar atrás de uma câmara como presidente.

A nível do futuro política, estamos a preparar a recandidatura?

Ainda é cedo para falar na recandidatura. Eu sou a favor da limitação de mandatos, a política não é uma profissão e nós não devemos eternizar em termos da política. É bom que haja rotatividade, defendo isso. E depois há outros factores a nível pessoal e familiar e partidários.

Ser presidente da câmara é um sacrifício ou é um desafio?

É um grande sacrifício, sobretudo a nível de Cabo Verde. Mas há sempre as recompensas, sobretudo quando se sabe que se contribuiu para a resolução dos problemas do município. É uma grande recompensa.

Qual é o seu maior feito nesses seus dois mandatos?

Diria que é a rede de abastecimento de água. Sinto-me recompensado, porque hoje todas as famílias, mesmos as mais distantes têm uma torneira em casa. Foi de facto um grande trabalho desenvolvido pela câmara e sinto-me orgulho em assumir isso. Além disso há outros projectos como a infra-estruturação desportiva, a construção do campo relvado, mas também em matéria de educação. Nós disponibilizamos por ano 12.000 contos para formação superior, valor superior ao das câmaras que têm valores 4  vezes maiores. Neste momento temos cerca de 140 jovens que beneficiam da bolsa da câmara, ou seja todos os meses temos que arranjar cerca de 200.500 contos somente para essa actividade.

Escolas a fechar portas       

Na última década o concelho perdeu para mais de 3.000 pessoas, como é que explica isso?
Um dos motivos é a falta de actividades que possam ocupar a mão-de-obra jovem, o que obrigou a que muitos tivessem que ir viver para o Sal ou Boavista e que outros fossem estudar nas ilhas de São Vicente e Santiago, acabando por encontrar outras alternativas. Isto tudo fez com que houvesse esse decréscimo populacional, factor que não se coaduna com o crescimento da ilha, penalizando, desta forma, o concelho da Ribeira Grande.

Quais são as consequências que isto trouxe?
Com a diminuição da população nós estamos com uma situação em que, em várias zonas, vamos ter que fechar escolas, como é o caso de Fontainhas. Esta escola foi construída na década de 90, tinha 4 classes, 3 professores e uma biblioteca. Hoje vai ter que ser fechada, porque não há crianças naquela localidade e nem se vislumbra que num horizonte de 4 ou 5 anos venha a haver crianças naquela e noutras povoações onde se está a caminhar para a mesma situação.

Casa Para Todos

Como pensa que se deveria solucionar o problema da taxa de pobreza no concelho, sabendo que é uma das mais elevadas do país?

Quanto a mim, resolver o problema da habitação é reduzir a pobreza em mais de 30 ou 40%. Mas, para isso é necessário haver programas concretas nessa matéria, programas que chegam as pessoas, não é a casa para todos, porque isso é mais conversa do que outra coisa. É preciso conhecer-se a realidade efectiva das populações, a forma como elas vivem.

Pode-se dizer então que não concorda com esse projecto?

A forma como o projecto está montado não se adequada aos condicionalismos do concelho, com o nível de rendimento das populações. A maior parte das pessoas não têm um rendimento que lhes permite aceder a esse tipo de habitação, mesmo com a garantia em termos de pagamento.

Então, qual seria a melhor solução para esse problema?

Sugeria que, no caso de Ribeira Grande ou em outros concelhos do país, o Estado, conjuntamente com as Câmaras Municipais, elaborasse um projecto em que uma parte viria das bonificações e a outra parte pago pelas pessoas, mas feito tendo em conta o rendimento das mesmas.

Turismo pedestre

Acha que o concelho tem potencialidades turísticas que possam vir a ajudar no desenvolvimento da ilha?

Sim, o turismo é uma questão que começa a ganhar algum peso, sobretudo nos meses de Novembro, Dezembro e Janeiro que são épocas altas em Cabo Verde, em contrapartida com os países da Europa. Nós Temos a maior rede de caminhos vicinais do país, portanto o turismo que se pode fazer aqui e um turismo essencialmente tracking em que as pessoas gostam de andar a pé. Agora, nós temos é que criar as condições para isso.

Quais são os aspectos que têm constituído os maiores entraves para o desencravamento do turismo?

Um dos maiores constrangimentos é o problema dos transportes, sobretudo porque o acesso ao concelho não é fácil. Para os turistas que vêem dos países emissores como é o caso da Alemanha e Franca que são os turistas que mais visitam a ilha, encontram grandes dificuldades para chegar aqui na ilha. Isto porque, para vir para aqui têm que, primeiramente, passar pela cidade da Praia, depois vir a São Vicente e  só depois apanhar um outro barco que os traga à Santo Antão e não há nenhuma cooperação entre os barcos e os aviões. Este aspecto dificulta e muito que o turismo ganhe dinâmica e possa assim contribuir para o Produto Interno Bruto (PIB) de Ribeira Grande e da ilha.

O que é que a câmara tem feito para solucionar o problema?

Nós aqui na Ribeira Grande temos feito um investimento enorme na manutenção e reparação permanente desses caminhos vicinais, bem com algum trabalho de sinalização. Temos um guia especificamente para Santo Antão que foi, na altura, elaborado pelo gabinete técnico municipal e os turistas que vêem para aqui já conhecem todos os circuitos, sabem o grau de dificuldade que vão encontrar em cada um dos circuitos e neste sentido, começamos a ter o turismo como um dos pilares para o desenvolvimento futuro de Santo Antão.

Excesso de produção

Há o problema da falta de escoamento dos produtos agrícolas da ilha. Como é isso possível se já existe há quase um ano, um centro de expurgos na cidade do Porto Novo?

O problema é que o centro de expurgos foi, a partida, mal conseguido. Primeiro pela localização, segundo porque só entraria em funcionamento se, paralelamente, fosse feito um sistema de transporte com barcos devidamente equipados que fizessem o transporte para as outras ilhas. Por último, teria que encontrar uma melhor forma de comercialização com um sistema de preços garantidos.

Mas com o alargamento do porto isto não pode melhorar?
Neste caso, o problema não é o alargamento, porque, mesmo com a construção desse novo porto, vamos ficar com o mesmo constrangimento. O alargamento do porto é uma grande obra e vai trazer, sem dúvida, grandes benefícios, mas não é este o problema que se coloca. Neste momento, o que é preciso é ter um projecto que permita, efectivamente, que o centro possa funcionar.

A quem se deve cobrar essa responsabilidade?
Aqui a responsabilidade primeira é do Estado, porque somente ele é que pode encontrar linhas de crédito e definir políticas sustentáveis para fazer aquilo funcionar. Porque antes da própria construção com o financiador Millenium Challeng Account, poderiam ter apresentado ao financiador um outro projecto que abrangesse outros aspetos.  

O que é preciso fazer para que não se transforme num investimento perdido?
Deve-se fazer 3 coisas. Primeiro tem que se encontrar uma solução para o sistema de transporte que possa unificar de forma permanente Santo Antão com a ilha do Sal e da Boavista. Segundo, o projecto deve ser redimensionado, ou seja, teria de se instaurar actividades complementares, para além da questão da agricultura. Por último, teria que encontrar uma melhor forma de comercialização com um sistema de preço garantido. 

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